Não há uma explicação fácil, um motivo razoável, algo que esclareça as atitudes de dois garotos que resolvem torturar – física e psicologicamente – uma família que iria passar um fim de semana tranqüilo na casa de campo. Porém, a verdadeira tortura, que o espectador compartilha, é não ter qualquer intenção de elucidar por que os garotos fazem o que fazem.Os garotos em questão são Paul (Michael Pitt) e Peter (Brady Corbet), ambos assustadores e brilhantemente incômodos. Dois rapazes jovens, louros, com cara de ricos, que, sem serem convidados, entram na vida da família formada por Ann (Naomi Watts, linda e bem no papel), Geoge (Tim Roth, dá veracidade como pai impotente) e o filho Georgie (Devon Gearhart, angustiado) e decidem se "divertir". O restante é uma sessão angustiante de sofrimento e impotência.
Incomum
Muitas pessoas vão torcer o nariz, outras vão achar que é o pior filme das suas vidas, principalmente quem está acostumado a um cinema mais tradicional. Mas Haneke não é comum. Ele horroriza as pessoas sem utilizar nenhum recurso sobrenatural. É como se as cenas que passam na telona pudessem acontecer com qualquer um. Há ainda os que vão tentar descobrir um sentido oculto no filme. Pensar que os garotos agem de acordo com os freqüentes ataques aparentemente sem razão que pipocam nos EUA em universidades, cinemas, colégios, principalmente pelo seu título original: "Funny games U.S.". Ou que os meninos são apenas uma caricatura de uma juventude que, para se divertir, deve machucar algo ou alguém. Mas isso não importa para a maioria – talvez nem para Haneke. A proposta do diretor, que já fez "Caché" e "A professora de piano", é fazer o espectador sentir a desesperança dos protagonistas. Saber que estão sendo agredidos e não há muita escapatória. Não ter qualquer probabilidade de descobrir por que estão apanhando e continuar assim. Quando algo sai do controle dos dois garotos, eles simplesmente dão um jeito de voltar e continuar exatamente do jeito que estavam planejando. O diretor – e os dois rapazes – tem o poder de decidir. O espectador é a vítima, assim como a família. Se ele vai agradar a todos? Certamente não. É provável que nem mesmo todos os cinéfilos gostem dele, apenas os com estômago forte. Mas é uma aula de terror.
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